O ESPIRITISMO NAS PRISÕES


Na revista de novembro passado pg. 350 publicamos uma carta de um condenado, detido numa penitenciária como prova da influência moralizadora do Espiritismo. A carta que segue, é de um condenado em outra prisão, é um exemplo desta poderosa influência. É de 27 de dezembro passado. Transcrevemo-la textualmente, quanto ao estilo; corrigimos apenas os erros ortográficos.

“Senhor,

“Há poucos dias, quando me falaram pela primeira vez de Espiritismo e de revelação de além-túmulo, ri e disse que isto não era possível. Falava como ignorante, que sou. Alguns dias depois tiveram a bondade de me confiar, nesta horrível posição em que me acho agora, vosso bom e excelente Livro dos Espíritos. A princípio li algumas páginas com incredulidade, não querendo, ou melhor, não crendo nessa ciência.


Enfim, pouco a pouco e sem me aperceber, por eletomei gosto; depois levei a coisa a sério; depois reli pela segunda vez o vosso livro, mas então com um outro espírito,isto é, com calma e com toda a pouca inteligência que Deus me deu. Senti então despertar esta velha fé que minha mãeme tinha posto no coração e que dormitava há longo tempo. Senti o desejo de me esclarecer sobre o Espiritismo.


A partir desse momento tive um pensamento muito decidido, o de me dar conta, aprender, ver e depois julgar. Pus-me à obra com toda a crença que se pode ter e que é preciso ter em Deus e seu poder; desejava ver a verdade; orei com fervor e comecei as experiências. As primeiras foram nulas, sem resultado algum.


“Não me desencorajei, perseverei em minhas experiências e, palavra, redobrei minhas preces, que talvez não fossem bastante fervorosas e me remeti ao trabalho com toda a convicção de uma alma crente e que espera. Ao cabo de algumas noites, pois só posso fazer as experiências à noite, senti, por cerca de dez minutos, frêmitos nas pontas dos dedos e uma leve sensação no braço, como se tivesse sentido correr um riachinho de água morna, que parava no punho.


Eu estava então bem recolhido, todo atenção e cheio de fé. Meu lápis traçou algumas linhas perfeitamente legíveis, mas não bastante corretas para não crer que estivesse sob o peso de uma alucinação. Esperei então com paciência a noite seguinte para recomeçar as experiências e, desta vez agradeci a Deus, de todo coração, pois tinha obtido mais do que ousava esperar.


“Desde então, de duas em duas noites entretenho-me com os Espíritos, que são bastante bons para responder ao meu apelo e, em menos de dez minutos, respondem sempre com caridade. Escrevo meias-páginas e páginas inteiras, que minha inteligência não poderia fazer sozinha, porque,às vezes, são tratados filosóficos-religiosos em que jamais pensei nem pus em prática. Porque dizia-me aos primeiros resultados:Não serás joguete de uma alucinação ou da tua vontade? E a reflexão e o exame me provavam que eu estava bem longe dessa inteligência que havia traçado aquelas linhas.


Abaixei a cabeça, cria e não podia ir contra a evidência, a menos que estivesse inteiramente louco. “Remeti duas ou três palestras à pessoa que tinha feito a caridade de me confiar o vosso bom livro, para que ela sancione se estou certo. Venho pedir-vos, senhor, vós que sois a alma do Espiritismo, de ter a bondade de me permitir vos envie o que obtiver de sério em minhas palestras de além-túmulo, se, todavia, achardes bom.


Se isto vos for agradável, eu vos enviarei as palestras de Verger, que feriu o arcebisbo de Paris. Para bem me assegurar se o manifestante era ele mesmo, evoquei São Luis, que me respondeu afirmativamente, bem como outro Espírito, no qual tenho muita confiança, etc...”


As conseqüências morais deste fato se deduzem por si mesmas. Eis um homem que tinha abjurado toda crença e que, ferido pela lei, se acha confundido com o rebotalho da sociedade; e este homem, no meio do pântano moral, voltou à fé.Vê o abismo em caiu, arrepende-se, ora e, digamo-lo, ah! Ora com mais fervor que muita gente que exibe devoção.

Para isto bastou a leitura de um livro onde encontrou elementos de fé que a sua razão pôde admitir, que reanimaram as suas esperanças e lhe fizeram compreender o futuro. Além disso, o que é para notar, é que a princípio leu com prevenção e sua incredulidade só foi vencida pelo ascendente da lógica. Se tais resultados são produzidos por uma simples leitura, feita, por assim dizer, às ocultas, o que seria se a ela se pudesse juntar a influência das exortações verbais!


É bem certo que, na disposição de espírito em que hoje esses dois homens ( ver o fato relatado no número de novembro último), não só darão, durante sua detenção, nenhum motivo de lamento, mas entrarão no mundo com a resolução de aí viverem honestamente.
Desde que estes dois culpados puderam ser reconduzidos ao bem pela fé que acharam no Espiritismo, é evidente que se tivessem essa fé previamente, não tinham cometido o mal. A sociedade é, pois, interessada na propagação de uma doutrina de tão grande poder moralizador. É o que se começa a compreender.

Uma outra conseqüência a tirar do fato referido é que os Espíritos não são detidos pelos ferrolhos e que vão até o fundo das prisões levar suas consolações. Assim, não está no poder de ninguém impedir que eles se manifestem de uma ou de outra maneira. Se não for pela escrita, será pela audição: êles enfrentam todas as proibições , riem-se de todas as interdições, transpõem todos os cordões sanitários. Que barreiras podem, então, lhes opor os inimigos do Espiritismo.

Texto extraído da Revista Espírita de 1864.

Fonte : Informativo CEERJ 07-2011

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